O texto abaixo é pura ficção e
qualquer semelhança terá sido mera coincidência.
SITUAÇÃO 1 – Na estrada:
- Alô, polícia. São 10h da manhã e estou trafegando pela Rodovia
Marechal Rondon e me deparei com animais na pista. O fluxo de veículos está
enorme e há possibilidade de graves acidentes.
- Me desculpe meu senhor, mas não é nossa função cuidar disso. O senhor
deve ligar para o XXX e informar sobre o ocorrido.
- Mas, eu estou dirigindo, não posso usar o celular e, por sorte, passei
ileso pelo local. O Senhor não poderia acionar o órgão competente?
- Sinto muito meu senhor, mas não é de nossa alçada. Será que o senhor
não poderia expulsar os animais da pista?(?)
SITUAÇÃO 2 – Na rua:
- Alô, polícia. São 20h30 e estou aqui na Rua da Vitrine, esquina com a
Avenida Brandão. Tem uma pessoa caída ao chão se debatendo de convulsão. Creio
que ela está tendo um ataque epilético. Poderia enviar uma viatura para esse
local?
- Sinto muito meu amigo, mas estamos sem condições de deslocar alguém
nesse momento. O senhor não poderia perguntar a essa pessoa se ela, de fato,
quer ser ajudada?
- Alô bombeiros, estou aqui na Rua da Vitrine, esquina com a Avenida
Brandão. Tem uma pessoa caída ao chão se debatendo de convulsão. Acho que é um
ataque epilético. Poderia enviar uma viatura para socorrê-la?
- Sinto muito meu amigo, mas estamos sem condições de deslocar alguém
nesse momento.
SITUAÇÃO 3 – No hospital:
- Senhora, estou numa situação de emergência. Meu irmão tem pressão
alta, está passando mal e parece ser um ataque cardíaco. Por favor, chame o
médico com urgência.
- Por favor, aguarde um instante senhor. Preciso antes verificar a sua
carteirinha do convênio, se está em dia e se o contrato prevê atendimento
emergencial.
- A senhora não ouviu o que eu disse? Ele está tendo um ataque cardíaco.
- Sinto muito, senhor, mas são as normas da casa e eu não posso desrespeitá-las.
Se você já vivenciou ou fez parte de uma
das cenas acima, não se preocupe. Não é exclusividade sua.
A vida do ser humano perdeu o valor
frente a uma série de outros fatores considerados mais importantes pela
sociedade.
Na situação 1, a distância é a
principal arma do negligente. A falta de compromisso de profissionais que estão
melhor capacitados para essas situações, banaliza a vida humana. Nem ao menos
se mostram comovidos com o fato ou se interessam em auxiliar. É mais simples
renunciar e alegar que “não é comigo”.
Na situação 2, de um lado, o receio
da violência faz as pessoas valorizarem a própria segurança e, mesmo dispostas
a ajudar, as dificuldades encontradas acabam sendo maiores que o sofrimento
alheio. Do outro lado, por menor que seja a dificuldade, torna-se o caminho
mais fácil para se livrar de compromissos, uma vez que não produzem perigo a si
próprio.
Na situação 3, o fato é ainda
pior. Predomina o capitalismo, o lucro acima de qualquer condição. A vida
humana é relegada ao segundo plano e a prioridade é a garantia de que a
instituição não terá prejuízo. “Vale mais a garantia do meu trabalho que a vida do paciente”.
A maioria deve concordar que o aparato
público instituído para essa finalidade está sucateado, defasado e abandonado
pelos governantes. Mas, abrir mão de auxiliar o próximo não é a melhor maneira de
protestar contra o sistema.
As instituições privadas também vivem sob
a pressão do mercado e dos acionistas. Pregam a qualidade e a preocupação com
os clientes, mas pecam no cumprimento da promessa. Caem por terra a missão,
visão e valores das corporações. É o capitalismo a frente do comunitário.
É fato que a convivência social, os
valores morais e éticos estão se perdendo. Não devemos ser coniventes com isso.
Salários baixos, falta de perspectiva, estímulo ou frustração com a carreira
não podem servir como pretexto para deixar que nossos semelhantes padeçam de prejuízos
físicos, psicológicos ou financeiros. Nascemos para servir e só nos sentiremos
plenos quando percebermos que cumprimos nossa missão.
Um pouco de bom senso pode amenizar esse
quadro e tornar a convivência humana mais harmoniosa.
Vorlei Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário